Devido ao lançamento do livro “Discursos – Poética Songariana”, o escritor Hugo Bittencourt concedeu a entrevista abaixo ao Jornal Maria Quitéria.
Jornal Maria Quitéria: Fale um pouco sobre como surgiu o Grupo Colares. Quais as suas finalidades? Quem são os seus membros?
Hugo Bittencourt: Recomendo a leitura do texto da contracapa de nosso livro. Imagino que as palavras dali, respondam de forma satisfatória, embora poética, a presente questão. Acrescento, anotando que o COLARES, a par de priorizar o escorreito manejo literário do idioma, é um grupo de estudos tendo por alvo expandir as áreas de conhecimento de seus membros.
Jornal Maria Quitéria: A obra “Discursos”, foi publicada e lançado no dia 23.11.2024. Como surgiu a ideia de publicá-la? Quais escritores fazem parte desse livro?
Hugo Bittencourt: Publicar livro, em princípio, é ideia nutrida por todos e todas que se proponham fazer da escrita, forma de se comunicar com o mundo. O advento da Lei Paulo Gustavo, com vistas a auxiliar as artes em decorrência dos anos da pandemia, foi a janela aberta para vislumbrarmos a oportunidade de ‘pormos nosso bloco na rua’. Para tanto, valemo-nos apenas da produção literária do ano pandêmico 2022. Quiçá, no futuro, consigamos publicar ‘Poéticas Songarianas’ anuais, com suas respectivas produções literárias.
Compuseram o quadro de escritores e escritoras, os que em 2022 participaram do sodalício e atenderam os desafios literários propostos. Pela faixa etária – da mais jovem ao mais idoso - foram os seguintes: Jane Lopes, Edmilson Leal, Francisco Gavazza, Eva Soares, Dina Lopes e Hugo Bittencourt. Também abrimos espaço, sob o capítulo ‘Parceiros Casuais’ – título autoexplicativo – para os escritores Antônio Cazumbá, Edmundo Tavares e Tote Leal. Tudo isso, sem esquecer a colariana-ilustradora Conça Daltro que enriqueceu a obra com capitulares ilustrações e a originalíssima capa –título. Talvez, até, padrão para uso futuro, conservando-se o nome e se alterando, apenas, as cores da mesma.
Jornal Maria Quitéria: Qual o objetivo desse livro e qual sua importância para o universo cultural /literário e para a sociedade de São Gonçalo dos Campos e região?
Hugo Bittencourt: Sem desprezar a importância do meio digital, entendemos que o livro impresso segue sendo importante meio divulgador da literatura. Mais ainda, por se manter afastado das tentações da comunicação iconográfica, característica das redes sociais, empobrecedora da manifestação escrita propriamente dita.
Esta primeira edição de modesta tiragem, é verdade – 150 exemplares - completa o ciclo idealizado pelo COLARES – Coletivo Literário Arte de Escrever: produção de textos temáticos coletivos, ilustrados, em prosa e verso, por amadores amantes da literatura, obedecidos os escopos que norteiam o sodalício: a Contemporaneidade e a Regionalidade.
A publicação e a distribuição gratuita da obra Discursos – Poética Songariana, - primeira coletânea temática, pelas mãos de diversos autores e autoras são-gonçalenses – baliza novo momento no universo cultural literário. Para tanto, além de haver alcançado instituições culturais e educadoras, bem como cabeças pensantes municipais, a doação bibliográfica, pela via postal, chegou às estantes das Academias de Letras (a Brasileira, a estadual baiana e as feirenses); a Colégios Estaduais de 8 distintos municípios do Recôncavo Baiano e do Portal do Sertão; a 8 Bibliotecas Públicas: Salvador, Itaparica, Santo Antônio de Jesus, Cruz das Almas, São Felix, Conceição da Feira, Muritiba e Santo Amaro; aos 10 Campus Universitários, federais e estaduais, em solo baiano; aos dois jornais diários da imprensa soteropolitana.
Se mais longe não fomos, foi por nos faltarem recursos para tanto. Os recebidos via LPG , somados aos ‘caraminguás’ arrecadados entre os autores, foram consumidos até o último centavo.
Jornal Maria Quitéria: Como sua experiência de vida lhe influencia na escrita? Quais são suas inspirações?
Hugo Bittencourt: “O estilo é o homem” e “O homem é o meio”, duas máximas das quais resulto. Infância e juventude em solo gaúcho, pai leitor e calígrafo de mão cheia - ai meu Deus! Quando o jornal não chegasse - uma biblioteca rica em dicionários e com os tradicionais ‘tesouros’ da juventude dos anos cinquenta; obras de uns tantos autores clássicos em meio a outras “herméticas”, tipo ‘Mundo, Supra Mundo, Submundo”; assinatura da revista Seleções; Revista do Rádio; semanal revista O Cruzeiro, mais tarde Manchete; educandários de formação jesuítica do primário, na cidade de Rio Grande, passando por iguais instituições em Porto Alegre e Pelotas, alcançando o último ano em Ciências Econômicas na capital paulista - compuseram o lastro de minha formação.
Mestres, competentes. Leitura e Redação, permanentes. Pai, previdente. Avô, exigente: “escreveu, não leu...”. Aluno aplicado. Tanto, sucedido por um empresário mecenas que confiou e investiu em mim...
Na vida profissional, aos 24 anos, transferido para a Bahia – 1965 – para gerenciar indústria química, o primeiro projeto gaúcho aprovado pela SUDENE; mais de cem funcionários. Tempos de difíceis comunicações à distância, converteram-me em pródigo missivista. As cartas constantes foram sementes que me vocacionaram às crônicas e textos enxutos. Apaixonei-me pela Bahia, mas isso é outra história. Haja inspiração!
Aspirações? Vivi muito e cumpri a trilogia. Pai, dez vezes; milhares de cacaueiros e sansões do campo plantados; dois livros: um impresso, outro digital (Bahia – Terra de Todos os Charutos).
Jornal Maria Quitéria: Qual a relevância da Lei Paulo Gustavo para a concretização do citado livro?
Hugo Bittencourt: Como já declarei, a LPG foi de extrema relevância para a primeira edição de trabalhos assinados por membros do COLARES – Coletivo Literário Arte de Escrever. O apoio financeiro nos permitiu sair das margens e navegar no mar dos sonhados anseios dos amantes da escrita.
Jornal Maria Quitéria: Quais foram os desafios enfrentados, no papel de organizador do presente livro? Amigos e familiares ajudaram? Cite alguns nomes, caso deseje.
Hugo Bittencourt: A estrutura funcional do sodalício COLARES, foi adrede imaginada para poder desaguar no oceano da literatura impressa. Tal estrutura, sem presidência, secretaria, tesouraria, etc. em muito facilita a vida de quem se proponha organizar em livro, as produções colarianas. Para tanto, a entidade conta com dois fundamentais pontos de apoio: à Logística Operacional e o Banco de Dados. O primeiro, além de editar parâmetros funcionais e Editais internos, articula o cronograma dos temas a serem discutidos e tratados durante o ano literário. O segundo ponto basilar é representado pelos arquivos digitais, anuais e sistematizados, por assuntos e por autores - Adicionalmente, os colarianos devem produzir dois outros textos: um no mês de seus respectivos natalícios, abordando o fato: outro, como não poderia deixar de ser, nos dezembros, a mensagem atinente ao período natalino.
Nosso sonho maior? A cada ano-literário poder editar um livro composto pelas produções havidas no respectivo espaço de tempo. Já temos em arquivo material para dois livros: os textos produzidos em 2023 e 2024.
Jornal Maria Quitéria: Como você enxerga a questão da leitura e do consumo de livros hoje no Brasil?
Hugo Bittencourt: Por ser da ‘velha-guarda’, com agrado guardo o prazer de me embrenhar entre as folhas de um livro. Os tempos correntes, todavia, conspiram contra tal hábito. Não contra a leitura, propriamente dita. Na verdade, nunca, na história da ‘humana-idade’ leu-se tanto, quanto agora.
Livros impressos continuarão existindo. O deslumbre ante uma estante de livros aos quais sua mão alcance, estabelecendo uma aura e um elo indescritíveis, é perpétuo.
Caberá, isso sim, às cabeças ligadas ao mercado editorial, encontrar produções adequadas ao novo perfil de leitores do século 21.
Modéstia à parte, aspiro que nosso primeiro livro, marche em tal sentido.
Jornal Maria Quitéria: Como espera que os leitores interpretem este livro que está sendo publicado?
Hugo Bittencourt: Sequenciemos, pois, a resposta anterior.
As pessoas perderam o hábito da leitura de “longo prazo”. Chegaram ao cúmulo de se satisfazer com o simples título de dada matéria. Andam todos “muito ocupados”, esquecendo-se que, mesmo involuntariamente, “tempo é uma questão de preferência”.
O que fazer, então? Ir-se ao encontro do leitor. Livros temáticos multifacetados, assuntos contemporâneos, recuperação da verdadeira memória, ensaios mesclas de prosa e versos, distintos autores, textos enxutos. Livros que, quando abertos ao acaso, de imediato seduzam e induzam ao leitor prosseguir.
É justamente isto que aspiramos ocorra com nosso livro – amostra-grátis patrocinada pela Lei Paulo Gustavo. Esta primeira edição, portanto, não teve preço de capa e se encontra esgotada. Tirante alguns exemplares reservados aos autores, foi inteiramente doada.
Jornal Maria Quitéria: Deixe aqui um convite de leitura ao seu leitor e deixe suas considerações finais.
Hugo Bittencourt: Penso que as declarações anteriores, de per si, despertem o desejo, nos que tiverem contato com a obra, em (man)tê-la à cabeceira de suas camas.
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